Gabriel Romio
Eles não estão
matando, não estão roubando, mas trabalham na redação do “Já”. A contragosto ou
não, o fato é que a necessidade de sobrevivência pode levar alguns homens (ou
apenas jornalistas) a passarem por cima do orgulho e da ética para conseguirem
um “ganha-pão”. Com isso, eles ganham o pão e perdem o respeito.
De certo,
pode-se dizer que o mundo se sujeitou ao lucro, é verdade. O dinheiro segue a
audiência e esta é seguida pela legião de jornalistas dos tabloides
sanguinários. Eles são espécies de tubarões da sociedade que sentem um pingo de
sangue a quilômetros de distância. Qualquer fato que pode ser coagulado em uma
manchete sempre é levado às últimas consequências.
Isso tudo é
resultado da não contenção de esforços para garantir os desejos de lucro do
setor comercial. O ofício desses jornalistas de faro desviado é garantir a
venda dos jornais, doa a quem doer. E, até onde se sabe, sempre dói naqueles
que estão desarmados de um pouco de senso crítico. Os prejuízos acabam
refletidos em incontáveis disfunções sociais.
Campanhas
tendenciosamente partidárias, exposições de cadáveres, manchetes de assédio e
bundas desnudas são singelos exemplos diante da grotesca abordagem adotada
pelos veículos que carregam parentesco com o “Já”. Distantes da missão pública
com a qual o jornalismo deveria estar comprometido, estes tabloides transformam
a realidade num show de horrores.
Alguns podem despejar
a culpa desse fenômeno na população, argumentando que os jornais
sensacionalistas existem, porque existe compra, audiência. E não deixa de ser
verdade. No entanto, isso não tira o caráter sujo da atividade. Afinal, há
público para o craque, para a cocaína, para o Palmeiras e até para o vinho
carreteiro.
Aquilo que
separa o jornalismo praticado pelo “Já” das outras drogas é exatamente o fator
mais preocupante: a consciência sobre a existência dos malefícios. Diferentemente
da maioria dos usuários do “Já”, é provável que aqueles que consomem a cocaína,
por exemplo, tiveram a chance de optar por arcar com os prejuízos desse uso.
No caso dos
jornais, temos que considerar que o leitor acredita nas “verdades” publicadas
com a mesma veemência em que confia no seu médico. Ele desconhece as manobras
envolvidas na alienação pública e comunga ingenuamente com ela. Por isso, o
esperado é que se tenha uma postura correta daqueles que imaginamos que saibam
o que é certo e o que é errado.
Ao invés
disso, sobram profissionais rendidos à ânsia de fazer dinheiro e que não demonstram
nenhum nítido sinal de resistência ou preocupação junto à sociedade. Eximidos
da responsabilidade que lhes cabe, esses caras nos oferecem o que hollywood tem
de pior. E assim, o jornalismo se camufla no entretenimento.