sexta-feira, 29 de março de 2013

"JÁ" chega?

Gabriel Romio





Eles não estão matando, não estão roubando, mas trabalham na redação do “Já”. A contragosto ou não, o fato é que a necessidade de sobrevivência pode levar alguns homens (ou apenas jornalistas) a passarem por cima do orgulho e da ética para conseguirem um “ganha-pão”. Com isso, eles ganham o pão e perdem o respeito.
De certo, pode-se dizer que o mundo se sujeitou ao lucro, é verdade. O dinheiro segue a audiência e esta é seguida pela legião de jornalistas dos tabloides sanguinários. Eles são espécies de tubarões da sociedade que sentem um pingo de sangue a quilômetros de distância. Qualquer fato que pode ser coagulado em uma manchete sempre é levado às últimas consequências.
Isso tudo é resultado da não contenção de esforços para garantir os desejos de lucro do setor comercial. O ofício desses jornalistas de faro desviado é garantir a venda dos jornais, doa a quem doer. E, até onde se sabe, sempre dói naqueles que estão desarmados de um pouco de senso crítico. Os prejuízos acabam refletidos em incontáveis disfunções sociais.
Campanhas tendenciosamente partidárias, exposições de cadáveres, manchetes de assédio e bundas desnudas são singelos exemplos diante da grotesca abordagem adotada pelos veículos que carregam parentesco com o “Já”. Distantes da missão pública com a qual o jornalismo deveria estar comprometido, estes tabloides transformam a realidade num show de horrores.
Alguns podem despejar a culpa desse fenômeno na população, argumentando que os jornais sensacionalistas existem, porque existe compra, audiência. E não deixa de ser verdade. No entanto, isso não tira o caráter sujo da atividade. Afinal, há público para o craque, para a cocaína, para o Palmeiras e até para o vinho carreteiro.
Aquilo que separa o jornalismo praticado pelo “Já” das outras drogas é exatamente o fator mais preocupante: a consciência sobre a existência dos malefícios. Diferentemente da maioria dos usuários do “Já”, é provável que aqueles que consomem a cocaína, por exemplo, tiveram a chance de optar por arcar com os prejuízos desse uso.
No caso dos jornais, temos que considerar que o leitor acredita nas “verdades” publicadas com a mesma veemência em que confia no seu médico. Ele desconhece as manobras envolvidas na alienação pública e comunga ingenuamente com ela. Por isso, o esperado é que se tenha uma postura correta daqueles que imaginamos que saibam o que é certo e o que é errado.
Ao invés disso, sobram profissionais rendidos à ânsia de fazer dinheiro e que não demonstram nenhum nítido sinal de resistência ou preocupação junto à sociedade. Eximidos da responsabilidade que lhes cabe, esses caras nos oferecem o que hollywood tem de pior. E assim, o jornalismo se camufla no entretenimento.


Programa de TV feminino, te representa?



Isabela Almeida



O novo perfil da mulher, que vem sendo traçado desde o início do século, não corresponde ao conteúdo apresentado nos programas televisivos voltados para o público feminino. Os interesses da mulher autônoma, inteligente, bem informada, trabalhadora e questionadora, vão além das dicas de saúde, beleza, moda e receita de culinária. Atualmente, eles atingem assuntos da esfera política-social, que, contraditoriamente, não pautam os programas dedicados a ela.


O programa Saia Justa, do canal GNT, apresenta debates entre quatro mulheres com temas diversificados, como política, artes e atualidade. Apesar de não se tratar de um programa feminino em seu formato, e sim de um programa televisivo de debate, serve de referencial de como se configura essa nova mulher.


Além das temáticas diversificadas, o perfil dessa nova mulher, exige a veiculação de informação contextualizada e de linguagem e produções mais elaboradas. O que não elimina a discussão dos assuntos comumente apresentados nos programas femininos, mas pressupõe, a reformulação da forma como são exibidos e a ampliação dos temas abordados.


É notável que a programação televisiva voltada para a mulher não acompanhou suas conquistas históricas e suas mudanças, e hoje, não corresponde com a posição da mulher perante a sociedade. Muitos produtos midiáticos ainda se restringem a exibir conteúdos da esfera doméstica.


Os interesses e anseios da mulher do século 21 devem ser amplamente estudados para uma melhor fundamentação do público-alvo desses programas. E que, em paralelo a isso, a mulher reivindique uma grade de programação com temas universais, que a compreenda amplamente, que a represente.

Ônibus de João Pessoa estão entregues às baratas

Imagem retirada do blog: misteriosdamilaca.blogspot.com
Laís Lacerda


Calor, cansaço e a espera por um veículo sem manutenção e sem hora para passar. Quem depende de transportes públicos em João Pessoa tem que enfrentar isso todos os dias. E os desafios não param por aí. Quem precisa ir a Jaguaribe sofre com a falta de linhas de transporte e ainda com os insetos. No bairro, o número de instituições de ensino e de saúde é grande. O preço da passagem está sempre aumentando e, não proporcionalmente, a manutenção dos veículos. Os estudantes, enfermos e aposentados, tem que pagar e dividir o assento com as baratas. Isso se tiverem a sorte de encontrar um banco vago.

A superlotação é outro problema e não me parece ter uma pessoa sequer na Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana De João Pessoa, SEMOB, que pense em uma possível solução. Mas, a população sabe o que é preciso fazer. Criar linhas novas, segundas, terceiras opções, principalmente para resolver a situação nos horários de pico. Estudantes esperam mais de 50 minutos pelo transporte no Valentina Figueiredo. Fora todos esses problemas, ainda tem a falta de informação de fácil acesso ao passageiro. Ônibus com destino a José Américo no letreiro não faz este percurso, isso mesmo, o trasporte não vai até o bairro José Américo, como era de se esperar. E como fica o passageiro? Sem perceber, ele deve descer no próximo ponto de ônibus e terminar seu percurso a pé. Mesmo que este seja de 2km.

Para ir do Bairro dos Estados até a Universidade Federal da Paraíba de carro, se não houver nada de anormal no trânsito, um estudante leva em média de 8 a 10 minutos. Se o mesmo estudante dependesse de transporte público, além de se deslocar até a avenida principal de circulação dos ônibus, ele teria que esperar pelo menos 15 minutos pelo transporte e, ainda, dividí-lo com uma enxurrada de pessoas como ele, que não têm outra opção. Nesse caso, o percurso levaria, sendo otimista, aproximadamente 25 minutos. Os transportes públicos deveriam ser atrativos para a população, não só pelo baixo custo, mas pelas condições mínimas de higiene e condição de viagem, só que de atrativo não têm nada. A não ser que você tenha um carro ou uma moto para se locomover, tenho certeza que você também está nesse grupo. O que fazer? Denunciar e esperar pelo tempo em que viajaremos sentados sem a companhia de insetos indesejados e sabendo a hora de pegar o ônibus.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Transporte público?

Renata Leitão

Segundo o dicionário, “público” quer dizer que se refere ao povo em geral. O que vemos é o emprego da palavra sendo utilizada em seu sentido mais estrito, deixando de lado a extensão em que o seu significado pode atingir. Afinal, de quem se trata esse “povo” que desembolsa todos os dias uma quantia em dinheiro por serviços que deixam um tanto a desejar?

            Sim, João Pessoa tem uma das bilhetagens mais baratas do país no que diz respeito ao transporte público. Mas a qualidade dos serviços prestados não condiz ao valor pago pelo cidadão que necessita desse meio de locomoção diariamente. Quando se fala em locomover, principalmente na labuta diária, pensa-se logo em comodidade, o que não é visto nas linhas urbanas disponíveis. Em uma cidade relativamente pequena em sua extensão não carece de tanto tempo perdido “rodando” dentro de ônibus. As ligações entre os bairros é uma problemática fácil de ser resolvida, é simples, faltam linhas, ponham mais linhas. Chega a ser indignante percorrer trajetos que seriam feitos em minutos, quando na verdade se demora uma hora.
Locais como Universidades, Centros comerciais, Hospitais, obviamente, necessitam de linhas que interliguem todos os bairros da capital, o que não se tem visto. Países de primeiro mundo utilizam o transporte público como melhor meio de locomoção, como pensar por essa diretriz se pecamos em um quesito tão básico?
Atrelado à carência na mobilidade e falta de lugares que façam integração de linhas, o próprio “povo” que utiliza o meio não sabe como proceder diante de um espaço destinado ao mesmo. Durante todo o tempo em que o trabalhador, estudante, perde tentando chegar ao seu destino, o passageiro precisa disputar os seus tímpanos com sons ensurdecedores das musiquinhas nos celulares de certas pessoas que dizem estar utilizando um espaço “público”. Sempre quis entender o porquê da cultura “não fone de ouvido”, já que o dispositivo disponibilizado pelos aparelhos não fazem mal algum, na verdade, nesse caso, faz mais do que bem. Em meio à falta de ética e do senso de coletividade o que ta faltando na verdade é de pensar no público.

Um amor maior que eu?

Vanessa Rodrigues


Quando abstraímos a concepção de Amor, debruça-se em um melodrama de felicidade eufórica ou uma dor irreparável. Talvez Haneke não nos surpreenda com a primeira cena, a morte. Há quem diga que existem muito mais semelhanças do que diferenças entre o início e o fim, já que os dois pontos nos leva a um único sentimento: o novo. E a falta de expectativa de um final feliz não implica de acreditar que o desfecho seria outro.
Amor retrata a vida cotidiana e os sentimentos acumulados de um casal de idosos, construindo uma visão muito mais do telespectador que ainda não chegou aos seus oitenta anos do que dos próprios personagens. O filme é clássico, exprimindo o sentido real da palavra, são obras de arte pelas paredes da casa, o indispensável piano para típicos intelectuais franceses, concertos admiráveis e a trilha sonora de Schubert. Além dos tons esverdeados, marrom e cinza, que propõem uma ideia de para toda uma vida.
O drama passa quase por completo dentro do apartamento do casal. Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva dão vida a Georges e Anne, professores de piano, aposentados, que escolheram a cumplicidade como a principal companhia e aliada.
Amor nos remonta a perceber que quando duas pessoas passam muito tempo juntas, principalmente se estas formam um par romântico, elas têm a tendência a um ser o pé direito e o outro o pé esquerdo, e só lado a lado é que os passos seguem firmes e com sentido. 
A história parece se aproximar de uma realidade nua e crua ao qual estamos inseridos. Ao questionar sua esposa sobre a doença que lhes pega de surpresa, Anne amorosamente responde ao marido: “É coisa da idade”.  Mas o filme não enfatiza os anos passados ou as enfermidades que degeneram o físico e a mente da mulher, Amor traz aquela ideologia de nada e ninguém no mundo pode nos separar. E esta foi à escolha de Georges e Anne, que ignoram o peso da idade e das consequências que esta acarreta, optando pela companhia uma do outro, e que qualquer interferência alheia desabaria todo sentimentalismo de paixão e vergonha que o drama sugere. E essa solidão, como escolha e imposição, torna-se uma grande prova de amor. A pomba branca que insistentemente quer adentrar no apartamento dos pianistas confirma esta sensação de que eles vivem em um monumento, com cheiro de velhice, com ar de solidão.
Haneke apropria bem o filme, através dos seus elementos visuais e sonoros. A câmera sempre lenta, a imagem parada por muitos segundos, o cenário triste, as vozes baixas, a música erudita, o silêncio compartilhado, nos envolve em um mundo inevitável, mas surreal para todos nós.
Diante de uma realidade dolorosa, Michael Haneke e seus personagens nos apresentam um sentimento dividido pela paixão e a razão, a dualidade de comportamentos, um bem-me-quer-mas-não-me-quer. Um fim inevitável para todos nos questiona até onde o amor suporta a dor do outro? Entre provas de paixão e eu te quero para além da vida, a falta de lucidez por não saber administrar o que se sente e o que se faz, permite crer que o para sempre, sempre acaba. E será que nós queremos este tipo de amor para chamar de meu?

As voltas do 1500 - Circular

Jacyara Araújo
Juliana Freire


Em uma rua sem calçamento, no bairro do Geisel, em meio a bares e residências, o terminal reúne trabalhadores apressados.  Na manhã ensolarada de uma terça-feira, o ônibus de número 0717 atraca em seu ponto final. Descem apenas o motorista e o cobrador, ambos de rostos suados.  Vamberto Lima, 56, é motorista deste coletivo de linha 1500 há quatro anos. Correndo, ele vai ao terminal, informa ao despachante o horário em que chega, usa o banheiro e sai com o rosto lavado. O ritual dura menos de um minuto e ele já volta ao ônibus para sua próxima viagem.
Às nove horas e quinze minutos, o ônibus branco com listras verde, vermelha e azul, parte em seu segundo itinerário, levando apenas três passageiros.  Na parte de trás, em uma cadeira preta, alta e aparentemente desconfortável, o cobrador Messias Batista está começando a sua jornada.  Aos dezenove anos, o rapaz magro de cabelos pretos e lisos, trabalha na empresa Transnacional há dois meses. Todo mês os cobradores são sujeitados a trocar de linha. Quem determina essa mudança é o gerente de tráfego da empresa.
Messias faz quatro viagens diárias durante as oito horas de sua jornada de trabalho. ”Essa linha é cansativa, é a que mais roda. A jornada de trabalho é pesada. As outras linhas são cinco ou seis partidas, e de uma hora cada”, desabafa ao dizer que passa duas horas sentado, sem circulação nas pernas e com uma cadeira péssima para a coluna.

O 1500 roda em cada viagem 48 quilômetros.  Ao todo, trabalham nessa linha, 50 motoristas e 50 cobradores que, durante sua jornada, atravessam 21 bairros. São eles: Geisel, Grotão, Funcionários I,II e III, Ernâni Sátiro, Costa e Silva, Gauchinha, Oitizeiro, Cruz das Armas, Centro, Torre, Expedicionários, Tambauzinho, Miramar, Manaíra, Castelo Branco, Cidade Universitária, Bancários, Mangabeira e Valentina.

Por causa de sua pouca experiência, Messias já enfrentou algumas saias justas. Ele conta, bem-humorado, uma delas: “Como eu sou novo no emprego, não conheço muito o caminho. Aí a mulher me  perguntou onde era um lugar, e eu disse que  o ônibus não passava lá. Ela respondeu que passava sim, porque pegava esse ônibus todos os dias. Aí eu disse: ‘Então por que perguntou?’”.
Após cruzar o bairro de Valentina, o ônibus entra em Mangabeira. Ao chegar lá, mais oito pessoas ingressam no 1500. Entre elas está Leila da Costa. Com um bebê de seis meses no colo, a cozinheira sobe pela porta da frente, vai até o final do ônibus, paga sua passagem e senta. Durante um ano e meio, Leila fez o percurso Mangabeira-Epitácio para trabalhar em uma casa de família. Agora que está desempregada, ela aproveita que ônibus anda muito, e vai mostrar a cidade à sua filha Ana Estela. “Às vezes levo ela à praia, outros dias ao centro, quero que ela conheça a cidade”, comenta.
Conhecer a cidade é também o objetivo do aposentado Edgard, que não diz o sobrenome porque “só o primeiro basta”. Ele mora sozinho e para não ficar triste em casa, todos os dias seleciona um roteiro para seguir, pegando de oito a dez ônibus diários. “Hoje eu vou para a Epitácio Pessoa, entregar a chave que o meu neto esqueceu lá em casa”.  Edgard observa, no entanto, que suas rotas geralmente não têm um objetivo específico. Natural de Irecê, na Bahia, Edgard vive em João Pessoa há 49 anos e diz que prefere pegar o 1500 por ser ele o ônibus de maior percurso da cidade.  Mas não há apenas situações agradáveis em suas viagens. Ele reclama que, por vezes, os motoristas fingem não o ver na parada de ônibus. “Eles viram a cara, não param pros velhos”, lamenta o aposentado de 83 anos.

O desrespeito aos idosos e aos deficientes é a única reclamação do prestador de serviços Wilson Santos de Oliveira, em relação ao ônibus. Conhecido como o DJ do 1500, Wilson, de 41 anos,  porta em suas mãos um pequeno aparelho celular, com música no volume máximo e o auto-falante ligado. Ao som de Aviões do Forró,  ele vai do bairro da Torre a Manaíra, por vezes se empolgando e cantando junto.
A música pode até animar alguns passageiros, mas isso não é o caso de Expedito Vieira. Membro da Igreja Peniel, o aposentado de 62 anos prefere viajar em silêncio e reclama: “quer escutar, escute baixinho”. Ele afirma que não toma o 1500 constantemente, apenas “no domingo, segunda, terça, quarta e sexta”, comenta irônico. Diz que gosta particularmente desse ônibus “porque passa com muita freqüência”.
A cada dez minutos, um dos  treze ônibus da linha 1500, que transportam em média 12.500 passageiros diariamente, passa pela parada de ônibus, segundo o despachante do terminal, Joabes Alves de Nascimento. Durante a noite, há apenas um ônibus dessa linha percorrendo a cidade e os minutos que os passageiros esperam aumentam para 80.  Esse tipo de ônibus noturno  é chamado de bacurau ou tetéu.
Às onze horas e vinte minutos, o 1500 finalmente chega ao fim de sua linha. Sem enfrentar um grande trânsito, o ônibus excedeu apenas cinco minutos do horário previsto para a viagem. No fim da jornada, são tantos os “obrigados” que o motorista recebe, tantos rostos vistos, que ao chegar ao terminal, do que foi dito e visto pouco se é lembrado. Mal tem o tempo para respirar, lá vão Messias e Vamberto novamente até o despachante, e voltam correndo do terminal para o início de mais uma viagem. 

Cabem 500 páginas em 2 horas?



Larissa Guedes


Adaptar livros para o cinema não é uma tarefa fácil. Agradar aos críticos e aos fãs dos livros é ainda mais difícil. E em se tratando de grandes sucessos literários, com legiões de fãs, isso se torna ainda pior!

Grandes sagas como Harry Potter e Senhor dos Anéis tem fãs incondicionais, que defendem que cada linha e cada palavra dos livros sejam transmitidas nas adaptações cinematográficas. São fãs que sabem o nome e o uso de cada feitiço já realizado no mundo de Hogwarts, que sabem falar Élfico e a designação de cada criatura da Terra Média. E esses fãs querem um filme que faça jus ao livro, que não exclua uma cena, que não mude a história, que o roteiro do filme seja quase uma cópia das páginas do seu amado livro.

Impossível, claro! São linguagens diferentes, são formatos diferentes, são universos diferentes. É lógico que tem que haver mudanças, cortes e releituras e isso não significa se distanciar da essência da história. Em seu texto sobre adaptações para a revista Nova Escola o professor de Literatura André Luis Rosa e Silva escreve que “a própria palavra ‘adaptação’ tem o sentido de transportar um gênero para outro, deixando claro que se devem fazer ajustes, através de correspondências ou transformações necessárias, para que o roteiro seja eficiente”. Beleza, concordo plenamente. Meu problema com várias adaptações é que elas cortam várias informações e cenas que são importantes para a trama e, às vezes, até inventam coisas nada a ver com nada! Por exemplo, no Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban eles não explicam quem são os Marotos (Almofadinhas, Pontas, Rabicho e Aluado) que fizeram o tal Mapa dos Marotos do Harry e filmes depois eles falam nisso, e aí quem não leu o livro fica voando na história. E no Enigma do Príncipe eles gastam mais de 2 minutos de filme com o incêndio d’A Toca (a casa dos Weasleys) coisa que nunca aconteceu nos livros, enquanto podiam estar explicando outras coisas muito mais importantes. E o melhor é que no próximo filme A Toca surge de volta lá, firme e forte.

Queridos diretores, produtores e roteiristas, a gente entende que é uma adaptação, que não dá pra colocar cada detalhe de 500 páginas em 2 horas, e que é necessário mudar certas coisas para fazer o filme funcionar. A gente consegue superar que os olhos Harry Potter no filme são azuis (e não verdes), que o Sirius Black é um homem feio e tatuado (e não um moreno, de olhos acinzentados, alto, elegante e lindo). Mas convenhamos, há coisas, que mesmo que sejam pequenos detalhes, são importantes, insubstituíveis e insuperáveis para os fãs. Eu preciso que o filme diga para quê a Casa dos Gritos e o Salgueiro Lutador existiam; eu preciso que os alunos não usem mágica fora da escola, porque é proibido; eu preciso que diga que Tonks está grávida de Lupin e que Lupin a abandona, até que Harry coloque algum senso na cabeça dele; eu preciso que as intercambistas de Beauxbatons não sejam todas menininhas delicadinhas e loirinhas e que os intercambistas de Durmstrang não sejam todos meninos carecas que lutam capoeira!

Nós, fãs, precisamos que os filmes sejam fieis aos livros. E fiel não quer dizer a cópia literal do livro. Basta ter todas as informações essenciais, as coisas bem explicadas e, principalmente, que vocês não inventem coisas “do além” no roteiro. Ah e que, por favor, não façam um lobisomem sem pelos e que parece mais com o Golum do que com um lobo.




Nesse vídeo os caras do Poligonautas falam sobre várias adaptações e dão suas opiniões, incluindo sucessos como o Harry Potter, o Senhor dos Anéis, e O Guia do Mochileiro das Galáxias.

A muitos e muitos quilômetros

Grazielle Uchoa

Sábado à noite, estacionando em uma lanchonete de esquina no bairro do Cristo, escuto uma freada brusca. Se não fossem alguns milésimos de segundos, o Fox, que atravessava o sinal vermelho, colidiria em cheio com o Palio que atravessava o cruzamento tranquilamente. Na volta da lanchonete para casa, próximo à ladeira do José Américo, vejo um aglomerado de pessoas em torno de um motoqueiro caído no chão. Ele acabara de colidir com um Siena. Como se não fosse o bastante, ao me aproximar da rua de casa, na principal dos Bancários, me deparo com um acidente causado por mais um indivíduo que ultrapassou o sinal vermelho. O motociclista ainda tentou fugir, mas um herói tipicamente nordestino puxou uma singela peixeira de aproximadamente 20cm para impedir que o cidadão deixasse o local.
Esses dias, conversando com um amigo, eu falava sobre quão enlouquecidas andam as pessoas no trânsito. Ele me respondeu: “as pessoas estão enlouquecidas em tudo”. Mas espera um pouco, né? Uma coisa é enlouquecer e xingar o maldito atendente de telemarketing, é “go wild” na balada, é se enfurecer dentro de casa e sair quebrando os jarros da sua avó, é fazer barraco com a amiga fura-olho. Outra coisa é entrar em um veículo automotor e assumir o risco de ferir ou tirar a vida de alguém. Isso, por si só, já deveria inibir as atitudes estapafúrdias que as pessoas tomam no trânsito. Mas não inibem. Aliás, contar com o bom senso alheio sempre foi e sempre será estupidez.
O que dizer do psicólogo Eduardo Paredes? O responsável pela morte da Defensora Pública Fátima Lopes e, cinco meses depois, da dona de casa Maria José dos Santos disse estar distraído no momento, não embriagado. E o jovem Alex que, após atropelar David Santos na Avenida Paulista, fugiu e jogou o braço do pedreiro, que acabara de ser amputado, em um córrego? Exemplos não faltam, não é verdade? Aposto que você já se lembrou de pelo menos mais dois ou três casos desse tipo. Uns envolvem álcool, drogas, outros envolvem ações de irresponsabilidade e alguns outros são meramente fatalidades do destino. De acordo com o Mapa da Violência, em 2010, mais de 40 mil pessoas morreram no trânsito. Pelo menos uma delas, eu e você conhecemos.
Minha intenção aqui não é nem de longe bancar a moralista ou encher você desses discursos dados sobre o trânsito, o álcool, a impunidade e todas essas coisas. Não trago respostas, mas sim perguntas. A principal delas, o porquê de todos nós pensarmos que tragédias só acontecem a muitos e muitos quilômetros de distância de nós.
O trânsito é um ambiente social como qualquer outro, ao qual todos nós estamos familiarizados. Em tese, ninguém quer morrer ou matar alguém. E nem é preciso tanto para entendermos a loucura que se tornou sair de casa, seja a pé, montado em uma bicicleta, pilotando uma moto ou dirigindo um carro. A tragédia social já está posta quando enfrentamos todos os dias o desrespeito, a agressividade desmedida, a precariedade dos transportes públicos, a falta de estrutura das rodovias e as tantas outras aberrações com as quais nos deparamos no nosso cotidiano. As mortes são, assim, o ápice, a ponta do iceberg de uma tragédia que já aconteceu, que acontece e ainda vai acontecer, todos os dias, o tempo todo, bem pertinho de nós, e não a muitos e muitos quilômetros.

De olho no retrovisor: dicas para sobreviver no trânsito de João Pessoa

Denise Evangelista


Em João Pessoa, hoje, estão nas ruas aproximadamente 300 mil veículos. Em 2000, a cidade estava folgada com menos da metade desta frota. Com o aumento do número de carros - e motos, e bicicletas, e carroças... - cresce também a quantidade de condutores imprudentes, inexperientes, egoístas e mal-educados. A combinação explosiva entre muitos veículos e motoristas loucos resulta em acidentes com maior frequência, trânsito lento (leia-se parado, muitas das vezes) e animais da mesma espécie causadora do caos berrando e gesticulando freneticamente dentro de suas gaiolas de metal. 

Ok. 
O fim do mundo se instala e você quer se desesperar. Por favor, não faça isso. Provavelmente, só irá piorar. Penso que a psicologia reversa funciona muito bem no trânsito. Enquanto todos gritam, respire. Se pressionarem, não se mova. Se xingarem,  finja surdez, pois você só se lembrará disso pelos próximos 100 metros, e olhe lá.

Outras dicas são válidas para amenizar o estresse do trânsito:

1.  Horários e rotas alternativas
Às vezes (quase sempre) é impossível, mas quando der se esforce um pouquinho para sair mais cedo de casa. Os engarrafamentos geralmente começam numa hora específica, de repente. Do mesmo modo, eles acabam. Então, se você também tiver a alternativa de sair mais tarde, assim que o trânsito aliviar, vai valer a pena. Alguns minutos separam o tráfego possível da paralisação total.

2. Respeite a sinalização
Parece óbvio, mas para alguns condutores não é. Dirigir acima do limite de velocidade permitida, estacionar em local proibido, executar ultrapassagens arriscadas e desnecessárias só dificultam as coisas. Para alguns parece vantagem, mas exagerar na aceleração muitas vezes não compensa. Um pequeno desvio na atenção, e pronto! Você colou no carro da frente e nem notou. Um reflexo bom não salvará sempre. E se a pressa era muita, parabéns, pois até a polícia chegar, a espera e o transtorno causado são grandes. Penso que se todos seguissem as regras o trânsito poderia fluir, talvez lento, mas constante.

3. Retrovisor não é enfeite
Mais loucos que os motoristas dos carros são os pilotos das motocicletas. Nada de se aventurar a manobrar sem dar uma boa olhada nos retrovisores. Afinal, as motos que se materializam do nada estão sempre envolvidas nos rotineiros acidentes.

4. Seja legal
Ser altruísta faz bem para alma e para o trânsito. Dar a vez, reduzir a velocidade para que outros motoristas possam cruzar ruas ou fazer contornos, além de ajudar o trânsito a andar, te deixa mais leve. Ser legal não custa nada, talvez alguns segundos. Não mais que isso.

5. Não buzine
No dia em que a buzina fizer carro andar ou desaparecer, buzinarei até o fim dos dias. Além de ser proibido (a buzina deve ser usada apenas para evitar acidentes e advertir a um condutor a intenção de ultrapassá-lo, desde que sejam toques breves), é mais um combustível para o estresse, tornando alguns motoristas tensos e até inábeis na hora de colocar o carro em movimento novamente. Sem falar que quem mora nessas áreas de trânsito complicado, sofre bastante. Você não iria querer ser acordado com uma buzinada, iria?

6. Gaste um pouco da sola do sapato
Já é perceptível que nem sempre vai ter uma vaga de estacionamento em frente à porta que você deseja entrar. Então, já é bom ir se acostumando a andar um pouquinho. Querer parar pertinho do local desejado é digno, mas se não der, não insista. A sua solução será fila dupla e local proibido, e o resultado será multa e menos espaço na rua para locomoção adequada. E nem venha com essa de sair de carro para ir à padaria que fica a 3 quadras da sua casa!

É claro que nem sempre vai dar certo. Então se você, ainda assim, se vir preso em um congestionamento, infelizmente eu só poderei dizer: já era! Espera passar. Mas tenho outra dica: se puder curtir o som da sua banda predileta, vai passar rapidinho.

De mãos dadas com Cabíria

Camila Monteiro

Tenho uma fé tremenda na vida. Não, não sou muito religiosa. Não vou à missa todos os domingos. Acredito que tem alguém maior olhando por mim e só. Minha crença não vem da religião. Vem das histórias a que eu assisti. O cinema, pra mim, mostra-se como algo que me faz seguir em frente. Um jeito Cabíria de ser. Sei que, no geral, a vida não é fácil, nem um pouco, pra falar a verdade. É tropeço atrás de tropeço, queda após queda, mas cabe a cada um se levantar da maneira que pode. Ser enganada (mais uma vez) e sair cantando por aí, justamente por saber que ainda há muito pra se ver, pra se viver. Afinal, beleza não acaba assim.
Giulietta Masina com seus olhos enormes, sobrancelhas estranhas e tamanho diminuto, em Noites de Cabíria, nos ensina a ter fé. Fé na vida, mesmo quando tudo parece tão complicado. Mesmo nos momentos mais difíceis, nada como rebolar ao som de um mambo.
Minha mãe me chama de ingênua e morre de medo de eu me lascar bonito nesse vidão de Deus. Mas eu prefiro assim, prefiro acreditar. A vida já está aí todos os dias pra tirar nossa ingenuidade. Damos a cara a tapa diariamente. Não pretendo agilizar por conta própria esse processo.


Assisti a Noites de Cabíria pela primeira vez por indicação da minha prima Amanda (que sempre tem as melhores sugestões de filmes), com uns doze, treze anos, e desde então sempre penso em Cabíria. Sempre penso em rir com aquele risinho de lado, meio irônico, quando as coisas andam mal. Sempre penso em como tudo pode ser melhor e acredito. Acredito nas pessoas.
Claro que cada um, em momentos diversos, procura no cinema algo diferente: puro entretenimento, conhecimento histórico, etc. Mas creio que o lado mais bonito é esse poder que ele tem de nos fazer repensar nossas próprias vidas. Quantas vezes assistimos a filmes que quando acabam, ficamos lá, parados, ainda processando tudo que acabamos de ver. Mais eficaz que um tapa na cara, diria eu, e não tão dolorido quanto.
Noites de Cabíria tem o final mais esperançoso do cinema. Quando tudo dá errado, e achamos que ela desistirá, vemos uma Cabíria sorridente. Nos mostrando que a ingenuidade permanece e que ela vai continuar vivendo e acreditando. Acho que, no final das contas, só temos a agradecer a Federico Fellini por nos apresentar à uma prostituta de temperamento forte, que em meio às gritarias constantes, busca incansavelmente pelo verdadeiro amor.

Gambit: Uma verdadeira engenhoca de arte

Bruna Fernandes


Um filme que começa com uma abertura estilo a da Pantera Cor de Rosa, de cara, já não me agradaria. Mas, com um roteiro dos premiados irmãos Coen e um elenco com Colin Firth e Alan Professor Snape Rickman, Gambit* (2012) valeu como passatempo - quando eu não estava fazendo nada numa tarde de domingo, é preciso salientar. Na verdade, a ideia também era fugir do blá blá blá dos filmes do Oscar e de quem só diz que assiste coisas cult.

Com um enredo simples, que não força uma mente pré segunda-feira, o filme traz o desejo de vingança do curador de arte Harry Deane (Firth) contra seu chefe Lord Shahbandar (Rickman). Sempre menosprezado pelo multimilionário da mídia londrina, Deane resolve que vai roubar um Monet do patrão. Para isso, conta com a ajuda de um falsificador de arte e da vaqueira PJ Puznowski (Cameron Diaz). Isso mesmo, uma vaqueira americana chega na conversa com seu sotaque exageradamente texano para dar continuidade ao plano de Deane (sempre com ar de bobo-sério usando o óculos da Chiquinha do Chaves). A partir daí, já em solo britânico, Diaz coloca para fora todo o seu treino de cowgirl do Texas para ajudar a convencer o Lord a fazer negócios com suas belas artes, tudo parte do plano. No desenrolar da trama, o enrolado entendedor de obras artísticas passa por situações cômicas para tentar alcançar seu objetivo. Piadinhas à parte, o que parece se encaminhar para um roubo desajeitado vai se tornando, sem que se perceba, em um esquema sofisticado.
Leve, rápido (nem chega a 1h30) e engraçadinho, Gambit é um remake de um longa homônimo lançado em 1966, dessa vez com Michael Caine como condutor da história. Vários scripts foram propostos para a recriação, mas, somente ano passado, um deles foi parar no vídeo, e nas mãos do diretor Michael Hoffman. O roteiro utilizou a ideia básica do original, um assalto a um magnata – e não muito mais que isso -, com uma dose de humor seco misturada a clichês flatulências. O remake traz bons diálogos entre os personagens e foge da linha séria de Bravura Indômita e Onde os fracos não têm vez, dos Coen. Além disso, faz Colin Firth firmar seu lado cômico e ao mesmo tempo contido, numa história que mostra que nem sempre o que o telespectador está vendo é o que está realmente acontecendo. Uma surpresa (pelo menos para mim) foi ver outro Rickman, que não o sombrio Snape de Harry Potter, em cenas engraçadas e, por que não, toscas, que valem a pena ver. O que não foi nada surpreendente foi a atuação excessiva de Cameron Diaz, mas que se torna suportável com o passar da bobina.
O Gambit original concorreu a três Oscars técnicos e recebeu, talvez por ter vindo primeiro, melhores críticas. Entretanto, para um dia de domingo ocioso, os dois são uma boa pedida. Mas, todo cuidado é pouco, afinal, o domingo pode superar a segunda-feira e se tornar o dia mais chato da semana. 

Sinopse: Harry Deane (Colin Firth) trabalha no mundo das artes plásticas, mas é também um grande malandro na arte de enganar o próximo. No momento, seu próximo plano é passar para trás um dos mais ricos colecionadores do mundo. Para fazer seu serviço, Deane planeja contratar a bela PJ Puznowski (Cameron Diaz), uma rainha de rodeios, para que sua vítima caia de encantos por ela e ele possa concluir seu "trabalho" com relativa tranquilidade. Mas ele não contava que também acabaria fisgado por sua própria isca e aí os erros começam a aparecer e tudo pode ir por água abaixo.

Gênero - Comédia, Policial

Direção: Michael Hoffman

Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen

Elenco:Alan Rickman (Lord Shahbandar), Anna Skellern (Fiona), Cameron Diaz (PJ Puznowski), Colin Firth (Harry Deane), Stanley Tucci (Martin Zaidenweber), Togo Igawa (Takagawa), Tom Courtenay (Major Wingate)

Produtores: Adam Ripp, Mike Lobell

Países de Origem: Estados Unidos da América, Reino Unido

Estreia Mundial: 12 de Outubro de 2012

Estreia Brasil: 4 de Janeiro de 2013