quinta-feira, 28 de março de 2013

De mãos dadas com Cabíria

Camila Monteiro

Tenho uma fé tremenda na vida. Não, não sou muito religiosa. Não vou à missa todos os domingos. Acredito que tem alguém maior olhando por mim e só. Minha crença não vem da religião. Vem das histórias a que eu assisti. O cinema, pra mim, mostra-se como algo que me faz seguir em frente. Um jeito Cabíria de ser. Sei que, no geral, a vida não é fácil, nem um pouco, pra falar a verdade. É tropeço atrás de tropeço, queda após queda, mas cabe a cada um se levantar da maneira que pode. Ser enganada (mais uma vez) e sair cantando por aí, justamente por saber que ainda há muito pra se ver, pra se viver. Afinal, beleza não acaba assim.
Giulietta Masina com seus olhos enormes, sobrancelhas estranhas e tamanho diminuto, em Noites de Cabíria, nos ensina a ter fé. Fé na vida, mesmo quando tudo parece tão complicado. Mesmo nos momentos mais difíceis, nada como rebolar ao som de um mambo.
Minha mãe me chama de ingênua e morre de medo de eu me lascar bonito nesse vidão de Deus. Mas eu prefiro assim, prefiro acreditar. A vida já está aí todos os dias pra tirar nossa ingenuidade. Damos a cara a tapa diariamente. Não pretendo agilizar por conta própria esse processo.


Assisti a Noites de Cabíria pela primeira vez por indicação da minha prima Amanda (que sempre tem as melhores sugestões de filmes), com uns doze, treze anos, e desde então sempre penso em Cabíria. Sempre penso em rir com aquele risinho de lado, meio irônico, quando as coisas andam mal. Sempre penso em como tudo pode ser melhor e acredito. Acredito nas pessoas.
Claro que cada um, em momentos diversos, procura no cinema algo diferente: puro entretenimento, conhecimento histórico, etc. Mas creio que o lado mais bonito é esse poder que ele tem de nos fazer repensar nossas próprias vidas. Quantas vezes assistimos a filmes que quando acabam, ficamos lá, parados, ainda processando tudo que acabamos de ver. Mais eficaz que um tapa na cara, diria eu, e não tão dolorido quanto.
Noites de Cabíria tem o final mais esperançoso do cinema. Quando tudo dá errado, e achamos que ela desistirá, vemos uma Cabíria sorridente. Nos mostrando que a ingenuidade permanece e que ela vai continuar vivendo e acreditando. Acho que, no final das contas, só temos a agradecer a Federico Fellini por nos apresentar à uma prostituta de temperamento forte, que em meio às gritarias constantes, busca incansavelmente pelo verdadeiro amor.

Ficha Técnica:

Título Original: Le notti di Cabiria
Gênero: Drama
Tempo de duração: 110 minutos
Ano: 1957
Direção: Federico Fellini
Roteiro: Federico Fellini, Ennio Flaiano, Tullio Pinelli, Pier Paolo Pasolini
Produção: Dino De Laurentiis
Música: Nino Rota
Fotografia: Aldo Tonti
Figurino: Piero Gherardi
Edição: Leo Cattozzo
País de Origem: Itália


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