sexta-feira, 29 de março de 2013

"JÁ" chega?

Gabriel Romio





Eles não estão matando, não estão roubando, mas trabalham na redação do “Já”. A contragosto ou não, o fato é que a necessidade de sobrevivência pode levar alguns homens (ou apenas jornalistas) a passarem por cima do orgulho e da ética para conseguirem um “ganha-pão”. Com isso, eles ganham o pão e perdem o respeito.
De certo, pode-se dizer que o mundo se sujeitou ao lucro, é verdade. O dinheiro segue a audiência e esta é seguida pela legião de jornalistas dos tabloides sanguinários. Eles são espécies de tubarões da sociedade que sentem um pingo de sangue a quilômetros de distância. Qualquer fato que pode ser coagulado em uma manchete sempre é levado às últimas consequências.
Isso tudo é resultado da não contenção de esforços para garantir os desejos de lucro do setor comercial. O ofício desses jornalistas de faro desviado é garantir a venda dos jornais, doa a quem doer. E, até onde se sabe, sempre dói naqueles que estão desarmados de um pouco de senso crítico. Os prejuízos acabam refletidos em incontáveis disfunções sociais.
Campanhas tendenciosamente partidárias, exposições de cadáveres, manchetes de assédio e bundas desnudas são singelos exemplos diante da grotesca abordagem adotada pelos veículos que carregam parentesco com o “Já”. Distantes da missão pública com a qual o jornalismo deveria estar comprometido, estes tabloides transformam a realidade num show de horrores.
Alguns podem despejar a culpa desse fenômeno na população, argumentando que os jornais sensacionalistas existem, porque existe compra, audiência. E não deixa de ser verdade. No entanto, isso não tira o caráter sujo da atividade. Afinal, há público para o craque, para a cocaína, para o Palmeiras e até para o vinho carreteiro.
Aquilo que separa o jornalismo praticado pelo “Já” das outras drogas é exatamente o fator mais preocupante: a consciência sobre a existência dos malefícios. Diferentemente da maioria dos usuários do “Já”, é provável que aqueles que consomem a cocaína, por exemplo, tiveram a chance de optar por arcar com os prejuízos desse uso.
No caso dos jornais, temos que considerar que o leitor acredita nas “verdades” publicadas com a mesma veemência em que confia no seu médico. Ele desconhece as manobras envolvidas na alienação pública e comunga ingenuamente com ela. Por isso, o esperado é que se tenha uma postura correta daqueles que imaginamos que saibam o que é certo e o que é errado.
Ao invés disso, sobram profissionais rendidos à ânsia de fazer dinheiro e que não demonstram nenhum nítido sinal de resistência ou preocupação junto à sociedade. Eximidos da responsabilidade que lhes cabe, esses caras nos oferecem o que hollywood tem de pior. E assim, o jornalismo se camufla no entretenimento.


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