quinta-feira, 18 de abril de 2013

A pele que habito: O thriller de Almodóvar

Isabela Almeida


Sempre fico ansiosa para ver o próximo lançamento de Almodóvar. Com “A pele que habito” não foi diferente, assisti com a expectativa de ser mais uma obra prima do diretor. Logo nas primeiras cenas, notei que o longa, com clima de suspense e cores mais sóbrias, fugia um pouco das referências que tinha do universo almodovariano. O cineasta espanhol experimentou deixar os espectadores tensos na cadeira do cinema durante cada minuto das duas horas de filme. E deu certo.

A inspiração foi o livro "Mygale", de Thierry Jonquet, que traz a figura de um pai que conduz uma vingança. No filme isso ocorre devido a um estupro cometido contra sua filha.
Almodóvar presenteou Antônio Banderas com esse personagem instigante. Robert, cirurgião plástico renomado, pesquisa a criação de pele artificial. Isso ocorre depois de perder a mulher, que cometeu suicídio após ter sido gravemente queimada num acidente. O ator surpreende e interpreta brilhantemente um homem com sua obsessão. Através de experimentos científicos, o estuprador (Jan Cornet) se transforma em Vera, que é prisioneira do cirurgião e vigiada 24 horas por dia. A interpretação de Elena Anaya para este personagem também é digna de muitos aplausos.

Tecnicamente, o diretor investe nos ambientes fechados, causando uma claustrofobia no espectador, para fazer perceber as sensações dos personagens. A trama também se desenrola de forma não linear e, aos poucos, o público compreende a origem dos acontecimentos, através do recurso do flashback.

A sexualidade humana sempre foi trabalhada nos filmes de Almodóvar de forma escancarada, sem muito romantismo, crua e real. “A pele que habito” não foge a regra, e também traz uma temática recorrente nas obras do cineasta, a transexualidade. Nesse caso, o distanciamento que o ser humano pode sentir entre o corpo e o espírito é uma das reflexões que o filme proporciona. O abuso das intervenções estéticas é outra. O suspense, a imprevisibilidade, o elenco marcante e o enredo inovador fizeram de “A pele que habito” um filme difícil de esquecer.

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