quinta-feira, 11 de abril de 2013

Nem Funk, nem Frank: o samba do crioulo doido

Flávia Lopes


Seis horas da noite. Dia ordinário, de uma semana fatídica, dentro de um ônibus lotado. Nada mais animador. Como se não bastasse o calor humano que aquecia ainda mais com o balançar do movimento com corpos em atrito: soa um funk. Nada suave. Cada buraco era um “para para para pa pa”. O motorista era funqueiro.

Do outro lado do ônibus, um pagode. E cada lombada era um “bereguedê”. Depois de 30 segundos de barulho simultâneo ninguém mais sabia quem estava cantando o quê: “bere-para-para-para-guedê-pa-pa”. Era literalmente o “samba do criolo doido”. Pensei em entrar na competição de paredão colocando Frank Sinatra, para cada semáforo ser um “New York”.

Para evitar isso, recentemente, os deputados da Assembleia Legislativa da Paraíba, que conhecem todas as dificuldades ordinárias do transporte público, aprovou, por unanimidade, o Projeto de Lei de número 1.229/13. A proposta proíbe o uso de aparelhos sonoros nos transportes públicos em todo o estado. A autoria é do deputado Gervásio Maia (PMDB). O projeto surgiu depois de várias reclamações de usuários que não ficavam muito felizes em escutar o “samba do crioulo doido” durante o trajeto nos transportes públicos. Espera-se apenas a sanção do Governador. 

A Bahia está um passo a frente de nós. Lá, a Lei já foi sancionada no mês de março. A norma também abrange trens, ferry boat, vans, micro-ônibus entre outros meios de transporte. É permitido o uso de aparelhos sonoros, de qualquer natureza, seja mp3, celular, tablet ou outros, desde que o usuário esteja com fones de ouvido. Se o passageiro desobedecer a nova lei, será "convidado" a deixar o transporte coletivo. Caso se recuse a deixar o local, a polícia poderá ser acionada. Na primeira vez que o passageiro cometer a infração, será apenas advertido. Caso seja reicindente, deverá pagar uma multa de R$ 1 mil. 

A tendência de multar quem gosta de escutar som alto em transporte público se espalhou pelo Brasil. Em Pernambuco o “DJ” pode pagar multa de até 10 mil. Em Minas Gerais também não é diferente. A Câmara Municipal de Belo Horizonte aprovou projeto de Lei que proíbe som alto nos transportes públicos. E quem não quiser usar fone de ouvido na hora da música, pode pagar multas de R$ 5 mil a R$ 10 mil. 

Aqui na Paraíba, o som alto já foi motivo de agressão. Em fevereiro deste ano, depois de pedir a um dos passageiros para que baixasse o volume da música do celular, José Paulo da Silva foi agredido no rosto. O caso, que aconteceu dentro de um ônibus da empresa TransNacional – linha 302/ Cidade Verde, foi noticiado pelo Portal Correio. 

Escutar música é uma espécie de catarse, definida por Aristóteles como um tipo de purificação das almas, descarga emocional. As letras, o ritmo, os acordes expurgam sentimentos. Mas nem todos os sentimentos são iguais. Cada música gera um tipo de emoção. A minha não é a mesma que a sua. O sentimento que me desperta um funk, certamente não é o mesmo que me desperta uma música de Frank. Eu voto pela liberdade musical, mas antes disso: eu voto pelo respeito. Nada de “samba do crioulo doido”. Um fone, por favor.

Reportagem sobre poluição sonora do JPB

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