domingo, 7 de abril de 2013

Violência para o povo e para a elite

Flávia Lopes 

Em 2007 instituiu-se a TV Arapuan na Paraíba. A concessão do canal foi assinada pelo Diretor-Presidente, João Gregório, e pelo Ministro das Comunicações da época, Hélio Costa. Com isso foi declarado que o grupo Arapuan estava apto a prestar serviços à sociedade. Essa TV é transmitida na Paraíba pelo canal 14, e tem uma área de cobertura de transmissão para mais de 30 municípios do estado, alcançando um público de, aproximadamente, dois milhões de telespectadores. Apesar de filiada a uma rede nacional, “REDE TV!”, o canal 14 tem reservado para si algumas horas do tempo da emissora. Sua programação local é composta por sete programas, dos quais seis são jornalísticos. E são eles os objetivos principais desse texto.

Quando foi assinada a concessão de regularização da TV Arapuan, publicada no Diário Oficial da União no dia 4 de outubro de 2007, foi oficializada a prestação de serviços à sociedade por parte do canal. Logo, instituiu-se que, através de sua programação, a TV serviria ao meio social, cumprindo os direitos e os deveres de toda entidade de comunicação, regida pelo capítulo V da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, que tece regularidades a respeito da Comunicação Social.

Além de ser uma TV de concessão pública, a TV Arapuan é aberta, com isso aumenta mais ainda sua responsabilidade perante a sociedade. Essa carga de responsabilidade dá-se, assim como em tantos outros canais, através dos programas jornalísticos. O jornalismo nos dá aquilo que conhecemos como o direito fundamental à informação, o qual todos estão aptos a receber.

Essa informação não deveria ser segmentada, principalmente por que é um direito atrelado a qualquer pessoa, sem distinção de raça, cor, credo, ou classe social. O que se tem, no entanto, na prestação de serviços para a sociedade, por parte dos programas jornalísticos, pelo menos, é um serviço fragmentado em dois grandes segmentos, jornalismo popular, ou “sensacionalista”, e o “jornalismo político”, de caráter elitizado.

Essa distinção no jornalismo da Arapuan acontece à vista clara. Não que haja proibição de veiculação para um determinado público. Não é isso. O que acontece aqui é uma “super-segmentação” que deixa evidente o que é para o povo e o que é para a elite.

A imprensa é considerada, em uma sociedade democrática, um quarto poder. E a voz desse quarto poder é o jornalismo. É por ele que se dá a manifestação da expressão da imprensa. Essa noção potencializada dada aos veículos de comunicação surgiu primeiro com o filósofo e político anglo-irlandês, Edmund Burke, e depois com o escritor e ensaísta escocês Thomas Carlyle. Mas esse poder relativo à imprensa não é do tipo ditador, autoritário, ao contrário, esse poder se dá pela sutileza, quase imperceptível, tão sucinto que às vezes nem se percebe. Isso é a sua arma de influência.

Se o jornalismo já é em si uma potência de poder, imagine quando se agrega a outro tipo de poder, o Executivo, por exemplo? Isso é o que acontece no segmento que aqui chamamos de “jornalismo político” da TV Arapuan, que é apresentado no programa: “Rede Verdade”. Ele trata de um conteúdo do mundo político e econômico da Paraíba e veicula entrevistas com personalidades paraibanas envolvidas nessas áreas. O partidarismo direitista é claro, porém sucinto. Mas, mesmo sutil, é violento.

De acordo com Muniz Sodré, a violência é apresentada de várias formas dentro da mídia. O caso acima relaciona-seà violência social, a qual o autor considera como uma “violência silenciosa, invisível e burocrática, decorrente de um modelo social fixado pelas hipertrofilia centralista do poder – é o que podemos chamar de estado de violência ou violência social.” (SODRÉ, 2002, p.13)

Para o comunicólogo a violência não é dada apenas através de veiculação de atos violentos, principalmente essa violência social, pois ela ocorre em todos os âmbitos (econômico, político, psicológicos) da existência. Para Sodré apresentam-se em dois tipos básicos: “a violência direta, que é o uso imediato da força física; e a violência indireta (latente), que inclui diversos modos de pressão (econômicos, políticos, psicológicos) ou então a ameaça do emprego da força”. (SODRÉ, 2002, p.18)

No caso dos programas da TV Arapuan que se apresentam dentro do segmento, dividido aqui neste texto, de “jornalismo popular” também existe essa violência social, porém, mais forte ainda é a violência representada, que é aquela forma violenta mostrada visivelmente. Essas características são apresentadas nos programas: “Tribuna Livre”, “Cidade em Ação”, “De olho na Cidade”.

De acordo com o livro “Jornalismo Popular” de Márcia Franz Amaral este tipo de mídia reflete o seu público, ou seja, o público que não está imerso nas classes A e B.O segmento de jornalismo popular pode ser classificado pelo seu tipo de conteúdo e seu público. O conteúdo é basicamente o retrato de comunidades pobres, e sua audiência é dada, em geral, pelos habitantes dessas comunidades. O segmento de jornalismo político também é caracterizado pelo seu público, que é a elite política da Paraíba.

Apesar de serem opostos, esses dois segmentos interligam-se em um elemento: a violência. Ambos agridem aos seus telespectadores manifestando a violência social, esclarecida por Muniz Sodré. Embora sejam dirigidos a públicos diferentes, no final das contas, esse dois públicos recebem a mesma recompensa.

Em suma, essa é a caracterização do jornalismo feito na TV Arapuan. Neste canal, os programas locais são segmentados para públicos diferenciados e totalmente opostos. Enquanto um é feito para ser a “voz do povo”, o outro é elaborado para ser a “voz da elite”. Porém, esses públicos, distantes e convergentes em âmbito social, são alvos da violência, apresentada de várias formas.

O que se tem na TV Arapuan são programas jornalísticos com públicos e formatos diferentes, mas com uma essência em comum: a violência. Enquanto uns nos agridem ao apresentar a violência propriamente dita, aquela que acontece no cotidiano, outro nos agride através da influencia sutil de um partidarismo político. No final das contas, o tipo de jornalismo que se faz na TV Arapuan é um jornalismo violento, que tanto agride visualmente quanto agride integralmente. A violência é entregue à elite e jogada ao povo.


Referência

SODRÉ, Muniz. Sociedade, Mídia e Violência. Porto Alegre: EDIPUCRS/Sulina, 2002


Vídeos



Para o povo: O programa Cidade em Ação o repórter entrevista deficiente auditivo que matou a mãe com golpes de machado na cidade paraibana de Pedras de Fogo.


Para a elite: Entrevista com Cícero Lucena no Rede Verdade da TV Arapuan

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