terça-feira, 9 de abril de 2013

O Guia do Mochileiro das Paradas

Agatha Arianne

Um dos ensinamentos mais preciosos deixados por Douglas Adams no Guia do Mochileiro das Galáxias ou Bíblia nerd foi: o tempo é uma ilusão, então o horário do almoço é duplamente uma ilusão. Não é preciso ser nenhum Artur Dent ou estar viajando para outro planeta para chegar a essa conclusão. Tudo que você precisa é esperar pelo ônibus 513, em João Pessoa. Existe uma lenda de que ele passa de 15 em 15 minutos, mas isto é material para outro livro de ficção científica.

A verdade é que a "imobilidade" urbana é uma questão espinhenta na capital paraibana. O 513 é apenas o meu problema e de alguns moradores do Bessa. Conversando com os outros passageiros sempre vejo o quanto poderia ser pior. Segundo o portal Mobilidade Urbana, João Pessoa tem uma frota de 237 mil carros particulares, com 517 ônibus em circulação e a cada dia licencia outros 101 veículos de passeio. O último projeto estrutural de planejamento para o transporte público aconteceu na década de 80 e o resultado do descaso pode ser visto no cotidiano de quem depende do famigerado busão. A demanda não é grande se comparada a cidades maiores, a Avenida Epitácio Pessoa, que possui o maior fluxo, tem 3.700 passageiros por sentido/hora. É um problema pequeno em relação a metrópoles como São Paulo, onde são 50 mil usuários de ônibus e metrôs. Lá, o cidadão desperdiça em média 1 hora e 20 minutos do seu dia dentro da condução, 30% dos usuários do transporte público afirmam que gastam mais de duas horas no trajeto.

Para os paulistanos que vivem sob o regime da pressa, o mais frustrante em ter que andar no coletivo é a superlotação; 25% reclamam da incerteza - não saber se o veículo chegará no seu destino final; 14% reclamam mesmo são dos atrasos.

Se para quem é habitué da Transnacional de João Pessoa é difícil, me pergunto como um turista pode se orientar por aqui. Nossas paradas de ônibus não agregam funcionalidade, não informam quais linhas passam por ali e a que horas. Não é difícil organizar isso, mas citando novamente o Guia dos Mochileiros, os ratos são a raça mais inteligentes do planeta terra - isso por que nós humanos somos extremamente preguiçosos.

Ainda no livro queridinho dos nerds, Adams explica que a história das civilizações tende a atravessar três fases distintas: a da Sobrevivência ("Como vamos comer?"); a da interrogação ("Por que comemos?") e a Sofisticação ("Aonde vamos comer?"). No século em que vivemos, trocaria essas três questões por: "Como vamos nos locomover de maneira sustentável?"; "Por que insistimos nos carros?"; e por fim, quando formos sofisticados como os europeus, nós perguntaremos: "Por que não melhoramos nosso transporte público antes?".

O Guia do Mochileiro das Galáxias adverte: Beber cerveja e comer amendoim ajudam a eliminar os efeitos adversos das viagens espaciais (de bus); Carregue sempre sua toalha.

+ Informações: http://www.mobilize.org.br/





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