quarta-feira, 10 de abril de 2013

Tornando-se uma estrela em poucos passos.


Beto Pessoa

               
“Eu quero ser muito famosa e ter o seu amor, mas quero sentar no sofá do Jô. Eu quero casar com você e estar na TV. Faturar milhões no BBB”, (LEITTE, Cláudia).

Estrelato e amor, amor e TV, TV e milhões. Filosoficamente duvidosa e com reflexão intrínseca, a esquematização é recorrente na contemporaneidade. Ser famosa, ou como prefere a autora supracitada, FAMO$.A., passou a ser sinônimo de vida plena, quem consegue a graça de alcançá-la chegou ao patamar máximo da realização, a exceção a um mundo cheio de regras.

Em tempos de supervalorização dos famosos instantâneos, como ex-BBBs, mulheres frutas, web celebridades, entre outros, tudo se torna manchete, ficando os pobres mortais dependentes de uma supercriatividade que garanta destaque na atual selva midiática. Você é um desses que seguem o démodé conceito “O trabalho dignifica o homem”? Pior, você não quer saber de trabalho pesado mas ainda assim não alcançou a graça do estrelato, mesmo com fácil acesso a Facebook, Youtube, Instagram entre outras ferramentas de visibilidade social? Não entre em pânico! Este guia pretende ensinar a você, leitora, o que fazer para conseguir o almejado título de Estrela.

O primeiro passo é encontrar sua deusa. No styar system, a deusa é essencial para ter referenciais, ela será seu objeto de projeção e identificação, aquela ou aquilo ao qual você irá se espelhar para construção do seu novo ‘eu’, no caso seu ‘eu’ midiático. Ou você achava que somente sua personalidade iria levá-la ao estrelato? Isso nos leva a segunda lição: em Hollywood, ou mais modestamente, na mídia do estrelato, TUDO PRECISA SER MONTADO. A inspiração pouco importa. Homem, mulher, cantor ou atriz, tudo é válido, desde que alguns pressupostos sejam respeitados.

Em primeiro lugar, beleza é fundamental. Ao travestir-se de aspirante a estrela midiática, você precisa estar sempre bela, preparada para os possíveis olheiros que podem ter a sua volta. Ao encontrar seu referencial, acredite não é tarefa fácil, você necessita fazer-se aparecer. Estar é mais importante que Ser, então esteja em vários lugares [de preferência se essa aparição lhe descolar qualquer visibilidade social, nem que seja aquelas colunas sociais de estética duvidosa].

Atingindo esse patamar, você tornou-se uma starlet, apelido dado por um certo francês chamado Edgar Morin. O mérito parece cobiçado, mas confie no que digo, não é! Starlet nada mais é que “qualquer jovem bonita que consegue fazer denominar-se fulana de tal... Que impõe seu nome” (Morin, 1989).

Agora você tem VI-SI-BI-LI-DA-DE. Honre sua conquista e não meça esforços. É hora de pegar seu portfólio de aparições e tentar conquistar novas terras. Chega de colunismos sociais ou aparições em quaisquer espaços de visibilidade midiática. Está na hora de caprichar no carão de abuso e fingir ser importante ao mundo.

Pouco a pouco sua visibilidade (ou, em uma pior situação, seus 200 emails enviados para caça talentos) lhe trará frutos. Em breve você recebe uma ligação e PAM! Seu primeiro destaque midiático é alcançado. Não importa se é um papel figurante em um seriado de canal por assinatura ou um pequeno espaço de assistente de palco em um programa de comédia mal escrita: o importante é conseguir afirmar-se na mídia, mostrar aos outros que conquistou um patamar desejado de visibilidade, deixou de ser uma fulana para ser A fulana, por mais que esse nome seja qualquer adjetivo ‘leguminoso’. Parabéns, você tornou-se uma vedete.

Lembrando: ser bonita é fundamental e na lógica midiática beleza é igual à juventude, então esqueça quaisquer paradigmas estéticos e entregue-se aos braços (bisturis) do Ivo Pitanguy. Lógico que nem todas conseguiram ainda visibilidade ($$) suficiente para tal, portanto a vizinha consultora da Avon pode dar um jeito em você.

Perdoe a comparação, mas a maquiagem está para a vedete assim como a ereção está para o ator pornô. Corrigir falhas e enaltecer traços é essencial para se alcançar a harmonia pitagórica que a Estrela possui. Morin lembra que para a estrela, “a maquiagem, que diminui ‘a eloquência da face’, lhe confere uma nova eloquência. Se despersonaliza a estrela, é para superpersonalizá-la. O seu rosto pintado é um tipo ideal. Essa idealização, adocicada ou não, é o fardo que a pintura impõe à verdade. A maquiagem acentua, estiliza e realiza definitivamente a beleza sem falhas, harmoniosa e pura”. (1989)

Em pouco tempo a ‘Fulana Alguma Fruta’ vai ganhar nome e sobrenome (pasme, SEU nome e SEU sobrenome, sim, aqueles de cartório!), seu papel midiático vai ser ressaltado e em breve as pessoas vão admirar sua inteligência e reconhecê-la na padaria. Um belo dia, quando você menos esperar, sua camisa de chiffon super querida será rasgada de canto a canto por uma louca qualquer que sonha em ter um pedaço de você para guardar e chamar de seu. Enfim, você é uma Estrela.

Referência do tal Morin:

MORIN, Edgar. As Estrelas: mito e sedução no cinema. Tradução [da 3. Ed. Francesa] Luciano Trigo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.

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