quinta-feira, 4 de abril de 2013

O Som ao Redor, a lógica mercadológica e a pirataria

Jacy Araújo





Li ótimos comentários sobre o filme O Som ao Redor nas redes sociais. Alguns portais de notícias faziam boas críticas e continham análises instigantes. Porém, ele não aparecia nos cinemas de João Pessoa. Fiquei sabendo de sua existência em janeiro de 2013, mas o filme estreou em 2012, fazendo muito sucesso fora do país e ganhando inúmeros prêmios, além de ser aclamadíssimo pela crítica. Cansei de ler que ele era “a melhor obra cinematográfica do ano”.


Continuei verificando se o filme aparecia em cartaz nos cinemas... e nada. Nas semanas seguintes, fui até Recife e o procurei nas programações dos cinemas por lá. Foi mais uma tentativa em vão. Em meios aos panfletos e livretos do Recife, encontrei uma ótima crítica sobre o filme e uma entrevista com o diretor Kleber Mendonça Filho. Em sua filmografia vi que ele tinha feito o curta-metragem “Eletrodomésticas” que, inclusive, tinha assistido anos antes. Aliás, é um excelente curta que segue a mesma linha temática do primeiro longa do diretor: uma crítica sobre classe média do Recife nos anos 90. Isso tudo me instigou muito mais para ver o tal filme.


Semanas se passaram até que, finalmente, surge uma oportunidade para vê-lo nos cinemas do Shopping Manaíra. Eram três sessões especiais. Na primeira, os ingressos acabaram horas antes do filme começar. Voltei para casa frustada e indignada por tentarmos ver bons filmes sob essas condições. Na segunda tentativa, pedi a um amigo para comprar meu ingresso pela manhã, só para garantir que finalmente conseguiria assisti-lo. Enfim, consegui.


Quando cheguei no cinema do Shopping Manaíra, muitos amigos e outras pessoas estavam igual a mim, no dia anterior, de mãos abanando: o ingresso para aquele dia tinha acabado no período da tarde. Aqui, os filmes não comerciais e não veiculadas a grandes distribuidoras, são exibidos assim, em duas ou três sessões especiais, em que nós, os telespectadores, disputamos os ingressos - quase a tapas.


Primeiramente, em João Pessoa não temos cinemas fora do âmbito de um Shopping Center. Para irmos ao cinema, temos que, necessariamente, entrar em um shopping. Os filmes exibidos nesses espaços tentam, naturalmente, atrair um grande público e não está muito preocupado quanto ao conteúdo mostrado. O Cine Bangue, localizado no Espaço Cultural, não tem uma boa estrutura e, geralmente, os filmes apresentam problemas ao longo da sua exibição.





O Som ao Redor se distingue e se destaca por não reproduzir filmes que seguem uma lógica mercadológica do cinema brasileiro. Kleber Mendonça cria um estilo próprio, um olhar mais realista sobre o dia a dia de um bairro de classe média, explicitando a violência. Os atores vivem dramas de pessoas comuns, sem glamourização, que convivem com o conflito do medo e da violência urbana latente.


Após uma frase de Kleber Mendonça à Globo Filmes, o diretor da empresa fez uma crítica e um desafio ao recente cineasta. “Desafio o Kleber Mendonça Filho a produzir e dirigir um filme e fazer 200 mil espectadores com todo apoio da Globo Filmes! Se fizer, nada do nosso trabalho será cobrado do filme dele. Se não fizer os 200 000 assume publicamente que, como diretor, ele é talvez um bom critico”, disse Cadu Rodrigues, diretor da Globo Filmes. Em resposta, Kleber agradeceu o convite e não viu lógica alguma em que, para ser um bom diretor, tem que atingir um número “x” de espectadores. E não há lógica.


A Globo Filmes tem decaído visivelmente quando de fala nas temáticas dos longas-metragens recentes. Os temas dos filmes têm apelado, cada vez mais, pelo melodrama e pela comédia escrachada. Os filmes “E aí, comeu?!” “De pernas pro ar 1 e 2.”, por exemplo, levaram, sim, um grande público às telas dos cinemas, mas qual é a reflexão que podemos tirar desses filmes ao sairmos da sala de exibição?


Mais recentemente, O Som ao Redor chegou aos sites e blogs disponível para download. Kleber foi logo alertado e falou para todos ficarem tranquilos e “que deu sorte do filme só cair na internet um ano e meio depois do seu lançamento”. Acrescentou, ainda, que esse fenômeno não é pirataria, e classifica a pirataria como um esquema comercial de venda ilegal de filmes, o que nem sempre acontece com as pessoas que baixam conteúdos da internet. Além disso, deu força para continuarmos o compartilhamento dos links do filme. Imagina a incrível evolução que teríamos se muitos artistas tivessem essa mesma visão?!




Trailler: http://www.youtube.com/watch?v=rj0eeHW7lXU


Link do filme para download: http://laranjapsicodelicafilmes.blogspot.com.br/2013/03/o-som-ao-redor-2012.html

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